Nas últimas décadas, a China passou de uma potência regional a um dos principais protagonistas da geopolítica global. Embora já fosse uma gigante econômica, agora se afirma também como uma superpotência militar em ascensão. Em um cenário internacional cada vez mais tenso — marcado pela rivalidade com os Estados Unidos, disputas no Mar do Sul da China, e o status político de Taiwan — a China tem direcionado vastos recursos e esforços para transformar suas Forças Armadas em uma das mais poderosas e tecnologicamente avançadas do planeta.
O motor dessa transformação é o Exército de Libertação Popular (ELP), fundado em 1927 e hoje considerado uma das maiores forças militares do mundo. Com um contingente estimado em mais de dois milhões de soldados ativos, o ELP está passando por um processo de modernização radical, abandonando doutrinas antigas e integrando tecnologias de ponta aos seus sistemas de defesa e ataque. Seu foco não está mais apenas na quantidade de tropas, mas sim na qualidade, mobilidade e capacidade estratégica.
A força terrestre chinesa já demonstrou avanços expressivos com a introdução de veículos blindados de última geração, sistemas de artilharia de precisão e tanques modernos como o Type 99, que representa o ápice da engenharia militar terrestre do país. Ele é equipado com sensores térmicos, blindagem reativa e canhões automatizados, comparáveis aos melhores tanques ocidentais. Além disso, unidades de mísseis de médio e longo alcance dão ao ELP uma capacidade formidável de resposta em qualquer teatro de guerra.
No entanto, o verdadeiro salto qualitativo do poder militar chinês se revela nas áreas naval e aérea, que recebem atenção prioritária do governo de Xi Jinping. A Marinha do Exército de Libertação Popular tornou-se, em número de embarcações, a maior do mundo, ultrapassando a frota dos Estados Unidos. Esse crescimento não é apenas quantitativo: a marinha chinesa conta com destróieres stealth, fragatas multimissão, submarinos nucleares e porta-aviões, como o Liaoning e o Shandong, com um terceiro porta-aviões — o Fujian — em fase final de testes, já equipado com sistemas de lançamento eletromagnético.
Esse avanço naval tem um objetivo claro: garantir o domínio no Mar da China Meridional, proteger rotas comerciais vitais e expandir a presença chinesa além de sua região. A instalação de bases militares no exterior, como em Djibuti, e a constante patrulha de áreas disputadas mostram a ambição da China de projetar poder naval globalmente, não apenas regionalmente. O conceito de uma "blue-water navy" — uma marinha capaz de operar em todos os oceanos — já é uma realidade próxima para os chineses.
Na aeronáutica, a Força Aérea da China deu um salto tecnológico notável. O desenvolvimento do caça Chengdu J-20, de quinta geração, colocou a China entre os poucos países do mundo com capacidade de fabricar aeronaves furtivas modernas. O J-20 é equipado com radar ativo, capacidade stealth e armamento de precisão. Embora o F-22 Raptor americano ainda seja superior em alguns aspectos, o J-20 representa uma ameaça real e crescente. Além disso, a China investe pesadamente em drones de combate, aviões de guerra eletrônica, bombardeiros estratégicos como o H-6K e, futuramente, o furtivo H-20, projetado para missões de longo alcance com capacidade nuclear.
Falando em armas nucleares, a China adota oficialmente uma política de “não primeiro uso”, ou seja, compromete-se a não iniciar um conflito nuclear, mas responder a um ataque se necessário. Apesar disso, os dados mais recentes mostram que o país está expandindo rapidamente seu arsenal nuclear. Estima-se que a China possua atualmente cerca de 500 ogivas nucleares, mas analistas indicam que esse número pode chegar a 1.000 ou mais até 2030. A construção de novos silos de mísseis intercontinentais e o desenvolvimento de armas hipersônicas como o DF-17 reforçam a ideia de que a dissuasão nuclear chinesa está se tornando mais complexa, móvel e perigosa.
Além das armas físicas, a China está desenvolvendo capacidades estratégicas em áreas de guerra cibernética, inteligência artificial militar, satélites de vigilância e até armas orbitais. A criação da Força de Apoio Estratégico, dedicada a operações espaciais, eletrônicas e cibernéticas, revela uma visão moderna e integrada de guerra. A China sabe que os conflitos do futuro não serão apenas travados com tanques e aviões, mas também com algoritmos, dados e controle do espaço.
O crescimento desse poderio militar está alinhado com a visão geopolítica de longo prazo da liderança chinesa. A estratégia do “Rejuvenescimento da Nação Chinesa” envolve restaurar a China ao seu “lugar de direito” como potência dominante, não apenas no Pacífico, mas em todo o globo. Isso inclui a proteção de suas fronteiras, a reunificação com Taiwan, o controle das linhas marítimas de comunicação e a capacidade de desafiar diretamente a supremacia militar dos Estados Unidos e seus aliados no Oceano Índico, no Ártico, e em outras áreas de interesse estratégico.
Diante de tudo isso, é impossível ignorar que a China já não é apenas uma potência emergente. Ela está se tornando uma superpotência militar consolidada, com capacidades impressionantes em terra, no mar, no ar, no espaço e no ciberespaço. A questão agora não é se a China será uma força dominante no cenário militar global, mas quando e como essa dominância se manifestará. O século XXI está sendo moldado por essa nova realidade, e qualquer análise de segurança internacional precisa colocar o arsenal bélico da China no centro da discussão.