Ao longo da história moderna, poucas questões despertaram tanto medo, tensão e debates diplomáticos quanto a posse de armas nucleares. Desde os bombardeios de Hiroshima e Nagasaki, em 1945, o mundo vive sob a sombra do poder atômico. As armas nucleares representam o auge do poder destrutivo da humanidade, e sua existência moldou políticas internacionais, alianças militares e guerras frias por décadas. Atualmente, apenas alguns países no mundo detêm oficialmente esse tipo de armamento, enquanto outros mantêm políticas de ambiguidade estratégica, sem confirmar nem negar sua posse. O cenário global da proliferação nuclear é complexo e envolve não apenas estatísticas, mas também política, geopolítica e segurança internacional.
Os cinco países originalmente reconhecidos como potências nucleares fazem parte do chamado Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), assinado em 1968. Entre eles estão os Estados Unidos, que foram os primeiros a desenvolver e utilizar armas nucleares em combate. Com um arsenal estimado em cerca de 5.200 ogivas nucleares, os EUA continuam sendo uma das maiores potências atômicas do mundo, com uma estratégia militar baseada na dissuasão e na capacidade de resposta rápida. A Rússia, por sua vez, é o país que possui o maior arsenal nuclear atualmente, com aproximadamente 5.800 ogivas. Herdeira do poder militar da antiga União Soviética, a Rússia mantém uma política nuclear agressiva e altamente estratégica, o que a coloca no centro das discussões sobre segurança global, especialmente após os recentes conflitos no Leste Europeu.
Além dessas duas superpotências, outros três países fazem parte do grupo de membros reconhecidos do TNP com armas nucleares: China, França e Reino Unido. A China tem expandido rapidamente seu arsenal nuclear nos últimos anos, investindo em tecnologia hipersônica, silos subterrâneos e mísseis de longo alcance. Estima-se que o país possua atualmente cerca de 500 ogivas nucleares, número que deve crescer significativamente até o final da década. A França, com cerca de 290 ogivas, é uma das poucas potências nucleares com independência total no uso de seu arsenal, sem depender de alianças externas. Já o Reino Unido possui aproximadamente 225 ogivas, todas operadas por submarinos da classe Vanguard, compondo a chamada “dissuasão estratégica contínua”.
Fora do tratado, existem países que possuem armas nucleares, mas não são oficialmente reconhecidos pelo TNP. Esses Estados seguiram caminhos alternativos para o desenvolvimento de seus arsenais, muitas vezes motivados por rivalidades regionais. Um exemplo claro é o caso da Índia, que realizou seu primeiro teste nuclear em 1974 e atualmente possui cerca de 165 ogivas. Seu principal rival, o Paquistão, desenvolveu seu programa em resposta direta aos indianos e também detém um número semelhante de ogivas, por volta de 160 a 170. Ambos os países nunca assinaram o TNP e mantêm programas nucleares ativos, com foco na dissuasão mútua e em suas disputas históricas, especialmente sobre a região da Caxemira.
Outro caso extremamente relevante é o da Coreia do Norte, que é o único país do século XXI a realizar testes nucleares abertos e frequentes. Desde seu primeiro teste em 2006, o regime norte-coreano tem aumentado sua capacidade, tanto em número de ogivas quanto em alcance de mísseis balísticos. Apesar da falta de dados concretos, acredita-se que a Coreia do Norte possua entre 40 e 50 ogivas nucleares, além de tecnologia para lançá-las via mísseis intercontinentais. A retórica militar agressiva de Pyongyang, combinada com seu isolamento político, torna o país um dos maiores focos de preocupação internacional no que diz respeito à segurança nuclear.
Entre os países que não confirmam oficialmente a posse de armas nucleares, o caso mais emblemático é o de Israel. Embora o governo israelense mantenha uma política de silêncio sobre o tema — a chamada “ambiguidade estratégica” — há amplo consenso internacional de que o país detém armas nucleares desde a década de 1960. Estimativas apontam para um arsenal de 80 a 90 ogivas, que seriam mantidas em segredo como forma de dissuasão silenciosa, especialmente diante das tensões históricas com vizinhos do Oriente Médio.
Além dos países com armas nucleares já desenvolvidas, existem aqueles que possuem capacidade tecnológica para construí-las, mas optaram por não fazê-lo. Nações como Alemanha, Japão e Brasil são frequentemente mencionadas como potências com programas nucleares civis avançados, infraestrutura de enriquecimento de urânio e conhecimento técnico suficiente para construir uma bomba nuclear caso decidam mudar suas políticas. O Irã também é alvo constante de suspeitas, principalmente após a retirada dos Estados Unidos do acordo nuclear em 2018. O país nega a intenção de produzir armamento nuclear, mas o avanço de seu programa de enriquecimento de urânio levanta alertas na comunidade internacional.
O controle e a limitação da proliferação nuclear continuam sendo um dos maiores desafios diplomáticos do mundo moderno. A existência de armas nucleares é tanto um símbolo de poder quanto um risco existencial para a humanidade. Em um mundo cada vez mais polarizado e instável, a manutenção da paz global depende não só da dissuasão entre potências nucleares, mas também do diálogo constante, da fiscalização internacional e da responsabilidade política de todos os envolvidos. A história mostra que, enquanto as armas nucleares existirem, a segurança será sempre frágil — e a paz, uma escolha consciente.